Cícero
Canções n’ O Apartamento

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Segunda-feira, cinco da tarde. No elevador subia Cícero, o cantor brasileiro que há muito tempo desejávamos conseguir trazer ao O Apartamento. Entrou com aquele jeito tímido tão seu, mas bastaram poucos minutos para que circulasse descontraidamente, como se estivesse em casa. Sentado na varanda, entre cigarros e garrafas de água, relatou-nos a sua visão de Lisboa, dos lisboetas e explica os motivos que o fazem querer sempre voltar. Põe mesmo a hipótese de um dia deixar São Paulo e ficar por cá uns tempos. Mas, por agora, a passagem por Portugal resumia-se a poucas semanas, pautadas por concertos em vários pontos do país.

Em Lisboa, antes da noite na Casa Independente, O Apartamento foi o seu palco num género de warm up para os shows dos dias seguintes. Um final de tarde caseira, com um miniconcerto intimista para apenas 25 pessoas. Da varanda para o chão da sala, pouco passava das seis da tarde quando Cícero começou a ensaiar o alinhamento da sua estreia absoluta em formato acústico. Pela primeira vez em toda a sua carreira ia apresentar as suas músicas tal qual como as criou, apenas com voz e violão. “Nunca fiz isso, não. Tou bem nervoso”, dizia-nos enquanto afinava a guitarra.

Deixamo-lo sozinho para que a inspiração chegue mais depressa e de repente parece que se faz magia. Enquanto respondíamos aos últimos emails do dia, Cícero tocava e cantava baixinho na sala ao lado, como que num sussurro que nos embalava e preparava para o tão aguardado fim de tarde musical.

Já há algum tempo que desejávamos fazer um miniconcerto e sempre que falávamos nisso brincávamos com o título do primeiro álbum de Cícero. “Giro, giro era termos as Canções de Apartamento do Cícero n’O Apartamento”, dizíamos sem levar muito a sério essa possibilidade. Mas um dia decidimos levar a brincadeira mais longe e, sem grande esperança, lançámos a ideia à equipa da Arruada, a agência de Cícero em Portugal. A resposta foi um sim. Tão simples, gentil e despretensioso quanto o próprio Cícero.

É assim que chegamos à tarde de 11 de julho. Pouco passam das 19h quando começam a chegar os primeiros espectadores. Sentado na cadeira, com viola ao colo, Cícero recebe os participantes com um sorriso tímido. Timidez que se revela recíproca quase até ao final do concerto, quando finalmente a audiência se solta, fazendo pedidos de músicas e cantarolando baixinho.

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Até lá, durante mais de uma hora, Cícero arrebatou corações e arrancou sorrisos, intercalando cada tema com histórias sobre o seu processo de composição. Contou como em certas alturas desejou ser um Tom Jobim, um Chico Buarque ou um Caetano Veloso, acabando sempre por ser apenas ele mesmo. Brincou com o tom sofredor dos seus primeiros temas, tão próprio da juventude. E passeou pelos vários álbuns, cantando os temas de sempre mas também os do seu mais recente trabalho. No final, suava e sorria perante uma audiência deleitada. “Afinal não foi assim tão difícil, acho que até vou voltar a fazer isso”.

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Para os que não puderam vir, fica aqui um pequeno excerto, pela objetiva do Nuno Fox, deste miniconcerto.