Rizzoli New York
entrevista com Marco Ausenda

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Rizzoli, uma história que não cabe nos livros

Quarta-feira, 23 de setembro. Pouco passava das 16h quando o CEO da Rizzoli nos tocou à campainha. Na nossa sala, mais de duas dezenas de títulos da gigante italiana compunham a pop up bookstore que estávamos prestes a abrir ao público e ele era o convidado de honra do cocktail inaugural. De casaco e calças azuis, a condizer com a cor dos seus olhos, e um saco informal ao ombro, apresentou-se: “Olá, eu sou o Marco!”. O “senhor” ficou logo posto de lado.

Marco Ausenda, atual número um da Rizzoli, distribui sorrisos afáveis e pede automaticamente se pode espreitar o apartamento d’O Apartamento. Saltita de divisão em divisão enquanto faz perguntas entusiasmadas sobre o conceito, muito provavelmente com a mesma curiosidade e interesse com que visitou Lisboa em 1975, durante uma road trip com amigos para espreitar os efeitos da nossa então recém-democracia. Por fim, senta-se no sofá e deixa escapar uma apreciação final, no seu inglês com sotaque italiano: “Isto é mesmo muito interessante”.

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Pop Up Bookstore Rizzoli n’ O Apartamento
Foto Rodrigo Cardoso © 2015

Da gastronomia à moda, passando pela fotografia e pelo design, à sua volta estão 23 livros da Rizzoli prontos para serem vendidos aos visitantes da primeira pop up bookstore desta editora em Lisboa, incluindo três títulos em lançamento mundial: “Terry Richardson: Portraits & Fashion”, “Swarovski” e “Becoming, by Cindy Crawford”. É assim o início da história da passagem de Marco Ausenda pelo O Apartamento. Já a história da Rizzoli, essa remonta ao início do século passado.

Angelo Rizzoli, uma história digna de livro

A vida de Angelo Rizzoli podia ter servido de inspiração a muitas das revistas, livros e filmes que este verdadeiro visionário italiano criou. Depois do suicídio do seu pai, o pequeno Angelo foi parar a um orfanato onde viveu até à adolescência. Lá aprendeu tudo o que precisava para poder dar os primeiros passos enquanto ajudante de tipógrafo e foi assim que a sua carreira começou. Dotado de uma astúcia incomparável, juntou dinheiro suficiente para ser dono da sua própria gráfica. O resto é história, daquela que corre o mundo. Entre a primeira e segunda guerra mundial o seu negócio floresceu, tal como a sua fama e capacidade empreendedora. Comprou revistas e jornais, impulsionou o jornalismo sensacionalista, inventou o paperback, publicou livros e produziu filmes com Fellini. No início dos anos 60, o universo italiano parecia-lhe já demasiado pequeno e decidiu atravessar o Atlântico até aos Estados Unidos.

La Dolce Vita
Anita Ekberg e Marcello Mastroianni no filme La Dolce Vida, de Federico Fellini (1960)
Filme produzido por Angelo Rizzoli | Foto Cineteca di Bologna/Reporters Associati © 1960

Em 1964 abriu uma livraria em Nova Iorque, em plena Fifth Avenue. Para contornar a barreira da língua dos títulos internacionais que vendia, rapidamente percebeu que os livros ilustrados deveriam ser a grande próxima aposta. Novamente, a sua intuição estava certa. Mais do que simples livros ou revistas, a Rizzoli passou a ditar tendências e a produzir verdadeiros objetos de culto. “Hoje lançamos 150 livros por ano e temos mais de 15 mil títulos disponíveis no total”, revela Marco Ausenda, entre um copo de champanhe e uma tosta com queijo da ilha. “Cinquenta e um anos depois, garanto-vos: seja em que parte do mundo for, onde se venderem livros em inglês é certo que vão encontrar um livro da Rizzoli. Exportamos para fora dos EUA cerca de 50% do nosso negócio.”

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Robert De Niro e Meryl Streep em Falling in Love, de Ulu Grosbard (1984)
Interior da antiga livraria Rizzoli | Foto Paramount Pictures © 1984

De Nova Iorque para Lisboa

Embora a família Rizzoli tenha vendido a empresa nos anos 80, a vida e visão do magnata italiano estará sempre presente no grupo RCS Media – que detém títulos como os jornais “Corriere della Sera”, “El Mundo”, “Expansión” e “Marca”.

No que dizia respeito a negócios, Angelo Rizzoli achava que era preciso arriscar e ter sempre um olho no futuro. A abertura desta pop up bookstore em Lisboa parece ainda ser um reflexo dessa velha máxima. “O potencial d’O Apartamento interessa-nos muito, faz todo o sentido embarcarmos numa experiência como esta. O Armando é um trendsetter e esta é uma boa ideia”, explica Marco Ausenda. “Os nossos livros primam pelas imagens, o que faz com que as vendas não tenham sofrido com as novas opções do universo digital. Mesmo assim cabe-nos a nós encontrar novas formas de os vender e de chegarmos aos leitores. Este é o tipo de projeto onde queremos estar no futuro.”

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Nova livraria Rizzoli em NoMad
Foto Rizzoli © 2015

Até dia 5 de outubro, O Apartamento é a morada mais próxima dos lisboetas que queiram comprar as mais recentes novidades desta editora. Depois disso não há nada como rumar a Nova Iorque e espreitar a mítica loja Rizzoli que, embora tenha mudado de morada, continua a ter literalmente a mesma decoração. Quem o promete é Marco Ausenda: “Demorou um ano, mas conseguimos fazer quase uma réplica da antiga loja na nova morada em NoMad, o novo núcleo criativo de Nova Iorque. Como o outro edifício teve de ser demolido para construírem um arranha-céus, decidimos que iriamos retirar todas as madeiras uma a uma, parafuso a parafuso, para recriar a antiga atmosfera, mas num só piso. Vale uma visita.”

Mal haja uma oportunidade para passar por Nova Iorque, de certeza que vamos.

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Pop Up Bookstore Rizzoli n’ O Apartamento
Foto Rodrigo Cardoso © 2015