São 9h30 da manhã quando a Ana Krausz mete a chave à porta. Como
 vai ao ginásio de manhã, é sempre ela
 a primeira a chegar. Abre os estores, prepara umas das suas panquecas 
paleo com farinha de coco e senta-se ao computador a comer. Depois aparece a Paula Cosme Pinto, que parece ter sempre um mar de textos para escrever. Quando o Vasco Águas e a Inês Matos Andrade chegam e a chamam para 
tomar café – ritual que lhes é essencial
 à vida antes de começarem a trabalhar
-, a resposta é sempre a mesma: “É só acabar este parágrafo”. Todos os dias ela é gozada por isso, mesmo quando não os deixa à espera. A meio da manhã chega o Armando Ribeiro, que madruga em casa a responder a emails desde as 8h. Chega sempre sorridente, com novidades para contar. Mas não é o único: nesses primeiros minutos em que os cinco por fim se juntam no escritório, ninguém se cala. Todos parecem ter sempre ideias na cabeça e querem-nas partilhar com o grupo. São apenas cinco, mas não podiam
 ser pessoas mais diferentes nos seus percursos profissionais e histórias de vida. E é essa diferença que os une e que faz d’O Apartamento o projeto eclético e descomplexado que pretende ser.

Em maio de 2015, O Apartamento abriu com morada fixa em Lisboa. Mas mais do que uma posição geográfica, 
é o espírito de partilha o seu ponto de partida. O Apartamento é um projeto feito de pessoas para pessoas. Que quer dar a conhecer aos Lisboetas o que 
de melhor se faz pelo mundo e dar a conhecer Portugal aos que vêm de fora, abrindo as portas a eventos que juntam mentes criativas, de diferentes espectros e diferentes sítios.

Mas voltemos um bom tempo atrás nesta história, quando ainda não havia casa, nem chave para lá entrar. Era uma vez um homem com uma ideia a fervilhar na cabeça. Enquanto amante de design e comprador compulsivo de revistas, Armando sonhava com a possibilidade de um dia poder trazer a Portugal os criadores de títulos mais out of the box do mercado, para ouvir as suas histórias e dar-lhes a conhecer as da sua cidade. Parte desse sonho era conseguir fazê-
lo num apartamento real, com fogão 
e panelas que fossem usadas todos os dias, um sofá que fosse mais do que uma peça de decoração e uma cama com 
um edredão quentinho para receber os convidados. A esta ideia ele chamaria “O Apartamento”.

Em 2014, decidiu que estava na altura de passar do sonho à prática e antes
de se tornar um apartamento fisico, O Apartamento deu os primeiros passos 
e trouxe a Lisboa a inglesa Cereal Magazine para um evento experimental. Nesta experiência juntaram-se ao Armando a Inês e a Paula, ambas jornalistas, uma especializada em gastronomia (com um garfo e uma faca tatuados no braço direito), a outra dedicada ao feminismo. Depois disso passaram a ser três. Juntos andaram à procura de casa e por fim encontraram um apartamento numa zona residencial da cidade, com vista para uma escola e um jardim. Apaixonaram-se logo pela luz que entrava nas janelas, mas também pela vizinhança tradicional, representativa da vida real lisboeta que queriam mostrar ao mundo.

E é assim que chegamos a Maio de
2015, o mês da inauguração oficial d’O Apartamento. O conceito inicial de Armando manteve-se: trimestralmente tem sido a casa de revistas internacionais, e por lá já passaram a catalã Openhouse Magazine, a berlinense Freunde von Freunden, a londrina Riposte e a dinamarquesa OAK. Mas 
a agenda do último ano mostra que o espírito que o move tem hoje tanto de versátil, quanto de irrequieto. Já foi uma loja temporária, um supper club; serviu jantares, e até mesmo um barbecue, assinados por chefes de renome. Já foi usado para workshops de macramé, cozinha macrobiótica e naked cakes e já foi palco de uma exposição de fotografia. Recentemente foi ainda morada de uma residência artística, tornou-se numa cafetaria pop up para brunches, com a assinatura de dois dos cafés mais cool de Estocolmo, e transformou-se em sala de concerto, num fim de tarde com sons do Brasil. Tudo isto num apartamento de 120 metros quadrados, onde quem quiser entrar tem de tocar à campainha e subir até ao quinto andar num elevador antigo com paredes de madeira.

Escusado será dizer que com uma agenda tão constante e polivalente, a equipa acabou por crescer. No início do verão de 2015 chegou o Vasco, arquiteto de profissão e com uma habilidade incomparável para dar vida nova seja
 a um pedaço de papel, seja a um rolo
 de corda. Depois desse verão chegou a Ana, que dedica boa parte do seu tempo aos hábitos de vida saudável, desde o exercício à alimentação. Só mesmo ela resiste às panquecas com chocolate que a Inês às vezes faz a meio da tarde. A cozinha parece ser o centro do mundo neste apartamento, ora à volta do fogão, ora à volta da mesa. É lá que muitas vezes recebem amigos à hora de almoço ou se juntam os cinco para decidir o que vai acontecer nos meses seguintes.

Agora que o mundo já veio espreitar O Apartamento, é chegada a altura de ele se aventurar porta fora. Depois do verão, há algumas surpresas na manga que envolvem a viagem deste conceito até outras cidades europeias. Mas por mais que todos gostem de pôr o pé na estrada para partilhar as suas ideias lá fora e beber o que de melhor se faz no mundo, um ano depois continuam a achar que não há nada como a cozinha lá de casa, com as suas gargalhadas a entoar nas paredes e o cheirinho das panquecas da Inês a aconchegar-lhes o estômago.